Os riscos de se tomar dinheiro emprestado

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*por Gustavo Cerbasi

Empréstimos, financiamentos e compras a prazo somente são úteis quando nos tornamos mais ricos com eles. Mesmo assim, somente aqueles que possuem um rígido controle orçamentário saberão se estão ficando ou não mais ricos ao trabalhar com dinheiro dos outros. A regra é simples: somente compre a prazo ou financie quando seu dinheiro estiver rendendo em uma aplicação juros maiores que os do financiamento. Isso é raro de acontecer. Jamais invista em aplicações financeiras se estiver devendo; elimine primeiro as dívidas para depois começar seu plano de investimentos, pois é uma hipocrisia acreditar que se está ficando mais rico quando se ganha 1% de juros no banco e se perde 3% no financiamento. Os financiamentos, quando mal escolhidos, só empobrecem as famílias.

Então, faça um favor a você mesmo: elimine de seu dicionário as palavras “cheque especial” e “crédito rotativo”. Os juros destas modalidades são verdadeiras roubadas e qualquer um tem acesso a linhas de crédito mais baratas, como os empréstimos pessoais e o crédito direto ao consumidor (CDC). Mesmo assim, os juros altos de nossa economia só se mostram interessantes para aplicar, não para financiar. A não ser que você tenha urgência na aquisição do bem (necessidade, e não vontade!), tenha a paciência de fazer uma poupança para adquiri-lo à vista daqui a alguns meses. O tempo passa rápido. E não esqueça de pechinchar no momento da compra: dinheiro à vista ainda é uma preciosidade no Brasil!

Para aqueles que já estão endividados, é preciso um plano de eliminação de suas dívidas. O plano é composto de três passos:

1) Urgência: coloque em prática os outros dois passos o quanto antes! Quanto mais demorar, mas juros pagará.

2) Substituição de dívidas: troque as dívidas que você tem por alternativas mais baratas. Quite as dívidas no cartão, na financeira e no cheque especial (juros maiores que 8% ao mês), tomando empréstimos diretamente com seu gerente no banco (juros da ordem de 5% ao mês) ou, melhor ainda, antecipando o recebimento do décimo-terceiro ou do imposto de renda (juros entre 3 e 4% ao mês). A melhor alternativa para substituição de dívidas é o refinanciamento do automóvel. Quem já tem um automóvel quitado pode vendê-lo à vista, pagar as dívidas atuais com o dinheiro recebido e comprar um novo automóvel financiado, preferencialmente com valor igual ou inferior ao do automóvel que possuía. Os juros do financiamento de automóveis são em geral da ordem de 2% ao mês. É importante ressaltar que qualquer alternativa é prejudicial ao bolso das famílias, mas que estas medidas devem ser adotadas para se livrar de forma mais fácil das dívidas.

3) Eliminação das dívidas: depois de substituir as dívidas anteriores pela alternativa mais barata, proponha-se a uma dieta rigorosa. Não de alimentos, mas de dinheiro. Planeje-se para tentar pagar as dívidas no menor prazo possível, fazendo para isso restrições no orçamento que desagradarão a toda a família. Corte gastos com lazer, roupas, alimentos mais caros e economize energia, água e telefone. Faça isso da forma mais intensa possível e no menor espaço de tempo necessário, acumulando recursos para pagar a dívida ou grande parte dela. Esta dieta rigorosa só funciona durante um curto período de tempo, jamais por um período de vários meses. Todo sofrimento é válido e bem aceito quando tem data para acabar e os objetivos são bastante interessantes. E perceba: o sofrimento imposto para a correção do problema só ocorre porque em algum momento no passado optamos por luxos que nossa renda não comportava.

Há ainda algumas falsas verdades no mundo dos financiamentos. Uma delas é a crença de que adquirir um consórcio é uma forma de investimento. Se você ouviu isso, provavelmente foi da boca de um vendedor de consórcio ou de alguém que acabou de entrar no plano. Sem dúvida nenhuma, sua aquisição seria muito mais eficiente se você optasse por investir seus recursos e receber juros ao invés de adquirir um consórcio e pagar as taxas de administração. Hoje, a suposta disciplina que o consórcio impõe seria uma espécie de motivação para guardar. Desculpa injustificada, já que todos os grandes bancos oferecem os chamados investimentos programados, que sacam recursos de sua conta para um bom fundo automaticamente.

A velha regra sobre juros continua válida: faça os juros trabalhar para você, a fim de não precisar continuar trabalhando para pagar os juros. Essa lei faz todo sentido no país que tem e terá até o final do ano as taxas de juros reais mais altas do mundo.

*Gustavo Cerbasi é consultor financeiro e professor da Fundação Instituto de Administração, sócio-diretor da Cerbasi & Associados Planejamento Financeiro e autor dos livros Dinheiro – Os segredos de quem tem e Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, ambos pela Editora Gente.

Fonte: MAISDINHEIRO