Como lidar com dificuldades financeiras?

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Já vi muitas pessoas reclamando que estão em dificuldade financeira em diversos momentos da vida, tanto em épocas de verdadeiro desconforto (como período de desemprego, perdas familiares, falência de empresa) como também em momentos de aparente tranquilidade. Mas o que faz as pessoas passarem por dificuldades financeiras, mesmo aquelas que aparentemente não teriam motivo para tal? O grande problema está no padrão de vida que essas pessoas levam e na falta de preocupação com o futuro.

Existe uma grande armadilha que vem sendo propagada pelos quatro cantos do mundo e vem sendo reforçada por livros de auto-ajuda e até mesmo pela mídia que dizem: “viva o hoje intensamente”.  Concordo plenamente que o hoje deve ser bem vivido, mas de forma alguma deve ser vivido “como se não houvesse o amanhã”. Além disso, acredito que você pode viver um “amanhã” muito mais bem vivido se você se dispuser a fazer alguns sacrifícios hoje.

Conheço pessoas que têm rendimentos altos para o padrão médio do nosso país, na casa dos 5 dígitos e que, mesmo assim, vivem em dificuldades. Vira e mexe estão entrando no cheque especial, não conseguem pagar o cartão de crédito, vivem pedindo dinheiro emprestado para amigos, familiares e, pior, para bancos! Isso acontece porque infelizmente essas pessoas não têm a visão de que um dia poderão passar por situações de ruptura e que precisam construir uma base para se segurarem nesses momentos.

Muitas pessoas acreditam que um simples aumento nos seus rendimentos lhes dão o direito de automaticamente aumentar seu padrão de vida de forma proporcional. Se a pessoa tinha um salário X e acabou de receber um aumento de 50%, ela automaticamente sobe seu padrão de vida em 50% (ou mais)! Renovam seus guarda-roupas com roupas caras, começam a frequentar restaurantes mais caros, passam a viajar com maior frequência, trocam de carro e assumem outros compromissos financeiros, como financiamentos e prestações. Por outro lado, não se preocupam em investir em nenhum ativo, ou seja, algo que gere renda complementar. O pior de tudo é que, depois que aumentam seus padrões de vida, não conseguem mais voltar ao que eram antes! Que fique claro: essas pessoas têm sim esse direito, mas como já dizia um amigo gaúcho há tempos: “poder tu podes, mas não deves né?”

Mas como resolver este problema, ou pelo menos “estancar o sangramento”? As dicas que deixo aqui valem para ambos os casos, tanto para aqueles que passam por momentos de real sofrimento como citei no início quanto para aqueles que têm uma situação aparentemente confortável, mas que mesmo assim se colocaram em dificuldades:

  1. Reduza CONSIDERAVELMENTE seu padrão de vida
    1. Inicie por controlar seus gastos através de uma planilha ou mesmo de um caderninho. Muitas pessoas passam por dificuldades financeiras simplesmente por não saberem como estão gastando seu dinheiro. Crie o hábito de anotar TUDO o que você gasta, especificando valores, datas e descrição dos gastos. Se possível, crie categorias de gastos para que você consiga criar resumos mensais e entender como você gastou seu dinheiro de forma macro. Exemplos de categorias: contas da casa, saúde, educação, vestuário, comida, lazer, despesas com carro, tarifas bancárias, etc. Como disse anteriormente, não importa onde você mantém esse controle, mas o importante é que o faça de alguma maneira. Seja no seu caderninho, seja numa planilha do Excel ou também utilizando alguma ferramenta de gestão financeira. Algumas dicas de ferramentas online gratuitas que podem ser usadas:
    2. Faça uma análise a partir de alguns dados levantados na sua planilha e defina METAS. Inicie com uma meta macro de redução de despesas. Exemplo: reduzir minhas despesas em 15% em relação a média dos últimos 12 meses a partir do próximo mês. A partir dessa meta macro, defina metas para cada uma das categorias de despesa que você criou. Exemplo: reduzir gastos com lazer em 30%; reduzir gastos com contas da casa em 20%, etc. As metas podem ser estabelecidas tomando-se um valor arbitrário de redução desejado ou mesmo fazendo-se uma análise mais apurada e definindo-se um outro indicador qualquer (menor valor dos últimos meses, média sem extremos, mediana, etc). Uma outra alternativa é definir a meta a partir de um orçamento que chamo de base-zero, em que você constrói suas metas a partir de um orçamento detalhado de cada uma das suas despesas previstas.
    3. Estabelecidas as metas, parta para as AÇÕES, pois somente estas garantirão o cumprimento das metas estabelecidas.  Baseie suas ações nas metas que você estabeleceu. Algumas dicas:
      • Contas da casa: se você definiu uma meta de redução nas contas da casa em, digamos, 20%, então você precisa definir ações que garantam que você vai atingir esse valor. Exemplos: reduzir o tempo de utilização do chuveiro para 10 minutos por pessoa (o que te garantirá uma redução da conta de luz e água em x%); reduzir em 50% as ligações de telefone fixo, utilizando alternativas gratuitas de comunicação como Skype, Whatsapp, Google Hangout, etc; mudar o plano de tv a cabo para uma alternativa mais barata ou mesmo cortar em definitivo a TV a cabo, dependendo da sua necessidade; reduzir seu plano de internet para uma velocidade inferior, mas que ainda assim te atenda.
      • Educação: aqui temos um ponto polêmico. Para muitas pessoas, a educação dos seus filhos é a maior prioridade. Acredito que elas não estejam erradas, mas ainda assim é preciso ponderar. Priorize manter aquilo que realmente é necessário e que você sabe que fará a diferença para seu filho no futuro, e procure reduzir o que não for tão importante. Se seus filhos tiverem sido criados com a mentalidade financeira correta, eles irão entender. E não se culpe por isso, pois você só estará fazendo isso em prol de um objetivo maior para toda a família! Peguemos um exemplo: seu filho estuda em escola particular, faz inglês 3 vezes por semana, futebol 2 vezes por semana, aula de tênis uma vez por semana e também aula de piano uma vez por semana. Primeira pergunta: seu filho precisa disso tudo? Além disso, é saudável que eu torne meu filho uma máquina de compromissos desde a infância? Enfim, essas respostas só você tem. Mas a dica é analisar friamente o custo / benefício de cada uma das atividades e ver o que é possível reduzir ou mesmo cortar, muitas vezes criando soluções alternativas e CRIATIVAS que reduza ou elimine o custo de algumas atividades citadas acima. Exemplos: porque em vez de colocar seu filho na escolinha de futebol, você não o leva naquela praça pública do bairro que tem uma quadra em que a molecada brinca todos os dias por lá? Porque em vez de manter o inglês 3 vezes por semana, você não leva seu filho nos encontros gratuitos de comunidades dedicadas à prática da língua, como por exemplo o CouchSurF English Conversations Group, o Soziety, o RealLifeGLobal, o Internations e outras comunidades que você encontra facilmente em uma busca na internet? Enfim, seja criativo!
      • Lazer: na minha humilde opinião, aqui é que se encontram as maiores oportunidades de redução. Sei que muitos vão me criticar, me chamar de pão-duro, virão com frases prontas dizendo que “a vida é agora” e bla bla bla. Mas minha intenção aqui é te mostrar alternativas,. Portanto julgue-as da forma como achar melhor e incorpore-as em suas vidas da forma como quiser. Ou simplesmente, ignore-as. Sem dúvidas não é nada legal você limitar sua vida social, se afastar dos amigos, etc. Você não precisa necessariamente se afastar de ninguém, mas certos hábitos precisam ser revistos em momentos de dificuldade financeira. E pode ter certeza de que os VERDADEIROS amigos irão te entender. Se você tem o hábito de sair com seus amigos duas vezes por semana, comece tentando reduzir para uma. Tente reduzir um pouco padrão dos locais de encontro. Se o objetivo maior é reunir a turma pra confraternizar, porque precisa ser no local mais caro do bairro? Porque não pensar na hipótese de realizar os encontros na casa de alguém da turma? Com certeza sai mais barato e certamente as pessoas ficarão mais à vontade do que em um lugar público. Viajar é ótimo, não é? Sim, é sensacional! Mas você precisa ir à Europa todo ano? Precisa viajar de 6 em 6 meses? Precisa levar sua família na Disney todo ano? Enfim, avalie.
      • Carro: aqui também é outro ponto que merece bastante atenção. Conheço muitas famílias que relatam dificuldade financeira e quando você faz uma visita na casa deles, vê na garagem 2 carros zero quilômetro de alto padrão. E pra quem tem carro, sabe que um carro é um filho! É custo de manutenção / revisão, IPVA, seguro, combustível, estacionamento, prestação (pra quem comete o ERRO GROTESCO de comprar financiado), além de outros custos que as pessoas geralmente não enxergam: depreciação e custo de oportunidade! Carro é um dos bens que se depreciam mais rápido. Além disso, é um bem que não traz nenhum rendimento (muito pelo contrário!), o que faz com que você tenha um grande custo de oportunidade, pois poderia estar investindo o dinheiro aplicado na compra do carro em algum ativo que gerasse renda. A dica principal é colocar na ponta do lápis os gastos que você tem com carro e avaliar sua real necessidade de ter mais de um carro na sua garagem ou mesmo um carro. Exemplo: moro perto do trabalho e tenho metrô / linha da ônibus a um quarteirão da minha casa que me leva para a maioria dos lugares que preciso. Preciso de carro? Outro exemplo: tenho 2 filhos e temos dois carros em casa, um meu e um da minha esposa. Trabalhamos relativamente próximos um do outro e nossos filhos estudam em escolas próximas de casa. Será que não conseguimos conciliar nossos horários e nossas atividades para que somente um carro atenda nossas necessidades?
  1. Crie fontes de receitas alternativas!
    1. Como fazer isso, se eu trabalho 8 horas por dia, pego 4 horas de trânsito, chego em casa cansado do trabalho e ainda tenho que dedicar tempo à minha família? Desculpa a sinceridade, mas respondo essa pergunta da seguinte forma: SE VIRA, PARCEIRO! O que você faz nas suas 8 horas regulares de trabalho não te diferencia de ninguém! O que te diferencia é o que você faz fora deste horário! Busque alternativas de aumentar sua renda! Abaixo, recomendo algumas opções:
      1. Desenvolva projetos pessoais:  comece a desenvolver projetos fora do seu trabalho principal, seja um projeto pessoal seu que você acredita que haja demanda ou mesmo um trabalho por encomenda de algum cliente. Pegue trabalhos como freelancer.
      2. Envolva-se com vendas: sim, com vendas! Ah, mas eu nunca vendi nada, não tenho perfil de vendedor e bla bla bla.. mas uma vez, SE VIRA. NEGÃO! Você não nasceu sabendo andar nem falar, mas aprendeu! Se você realmente tiver força de vontade, você consegue. Venda doces na faculdade; venda cerveja na porta do estádio; venda produtos de beleza através daquela amiga que te apresentou a marca X e que disse que você pode usar isso como fonte de renda alternativa; descubra que está indo para o exterior e peça para que essa pessoa traga produtos para você revender aqui, e por aí vai. Tenha uma forma fácil de gerenciar seus contatos, de forma que você sempre saiba quem está oferecendo e quem está precisando de algo. Você passa a ser o elo de ligação entre oferta e demanda e certamente será comissionado por isso. Você passa a ser a referência para muitas pessoas, tanto pra quem quer comprar quanto para quem quer vender algo. Conheço pessoas que multiplicaram em muitas vezes seus salários, simplesmente fazendo isso e, obviamente, sem comprometer sua atividade principal.
      3. Invista em ativos: como eu disse no início, as pessoas têm o hábito de aumentar seu padrão de vida à medida que aumentam seus salários. A dica principal é: mantenha (ou mesmo reduza) seu padrão de vida e invista esse “excedente” que você passou a receber em coisas que te garantam renda. Se você tem perfil mais arrojado de investimento, invista na bolsa de valores, ou mesmo invista num negócio qualquer em parceria com alguém. Faça uma pesquisa sobre áreas de negócio promissoras e pesquise sobre a possibilidade de adquirir uma franquia. Se seu perfil é mais conservador, invista em renda fixa ou mesmo busque investimentos mais seguros como imóveis. Se você não tem dinheiro suficiente pra comprar imóveis, pense em comprar em parceria com alguém que você confia.

       

Enfim, espero que as dicas acima possam ajuda-lo se alguma maneira. A grande maioria delas eu já testei na minha vida e afirmo que já me deram ótimos resultados. Além disso, conheço diversas pessoas que seguiram as mesmas estratégias e também tiveram excelentes resultados. Você também não precisa fazer tudo que eu digo. Fique à vontade para avaliar o que é mais adequado para você dentro do seu perfil, sua educação financeira e dentro da sua filosofia de vida como um todo. Uma dica final é procurar pessoas que já tenham tido sucesso financeiro e pedir aconselhamento. Nada melhor do que aprender com quem já chegou lá!

Um abraço a todos e ótima semana!