Não importa como você vote, o novo congresso não irá representar você

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Um dos pressupostos mais fundamentais por trás da democracia moderna é que os representantes eleitos de alguma forma representam os interesses daqueles que os elegeram.

Defensores do status quo político repetem essa posição repetidamente, alegando que a tributação e o estado regulador são todos moralmente legítimos porque os eleitores são “representados”. Mesmo os conservadores, que muitas vezes alegam pelo “governo mínimo”, muitas vezes se opõem ao radicalismo de qualquer tipo como a secessão.

Talvez a representação na política seja apenas uma ficção, um mito que faz parte do folclore de nossa sociedade. Ou talvez a representação deva ser redefinida para se adequar à nossa política; talvez devamos simplesmente aceitar o fato de que aquilo que chamamos de governo representativo é, na realidade, apenas uma competição partidária por um cargo.

Afinal, a representação no setor privado geralmente significa que há uma relação entre o agente e o principal, na qual o agente está legalmente obrigado a tentar representar os interesses materiais de uma pessoa ou grupo de pessoas claramente definida.

Claramente, isso não descreve a representação política. Não apenas não está claro quais são os interesses materiais dos eleitores – como grupo -, mas o suposto agente no relacionamento – o funcionário eleito – não está legalmente obrigado a representar os interesses dos eleitores que supostamente representa.

Para concluir, portanto, que qualquer eleitor específico consentiu, digamos, em aumentar os impostos porque seu “representante” aprovou, é um esforço extremamente superficial, na melhor das hipóteses.

Tampouco há qualquer razão para esperarmos que tal esquema de representação pudesse ser significativo sob as concepções modernas de governo representativo e democracia. Nem o sistema em si, nem os tipos de pessoas que se candidatam, nos dão qualquer razão para acreditar na viabilidade de tal sistema.

Especificamente, existem duas maneiras pelas quais a representação política do mundo real não se ajusta às noções de como tudo isso funciona.

Antes de tudo, mesmo que os políticos quisessem representar fielmente as pessoas dentro do seu círculo eleitoral, isso seria impossível. É impossível porque os políticos não podem conhecer as opiniões de toda a população do seu círculo eleitoral. E é impossível porque quanto mais diversificado for o eleitorado, mais improvável é que qualquer legislação possa ser elaborada para servir igualmente aos interesses de todos os membros do grupo.

Em segundo lugar, não devemos cair na armadilha de assumir que os representantes políticos tentam mesmo responder aos desejos políticos dos eleitores. A idéia de que a coerção governamental é legitimada pela representação política se apóia fortemente na idéia de que os políticos aderem a um modelo delegado de representação política no qual tentam avançar ou proteger os interesses de seus constituintes. Infelizmente, esta é uma suposição ruim.

Mesmo em um nível muito básico, a representação política não funciona em um nível teórico. Mas sejamos alguns tipos “práticos” por alguns minutos e imaginemos que poderíamos, em teoria, formar um grupo de pessoas com interesses econômicos, culturais e religiosos semelhantes. Poderíamos, então, pelo menos considerar a idéia de que seria possível representar esse grupo. Isto é, com um eleitorado que é altamente homogêneo, poderíamos pelo menos alegar que podemos entender e perseguir os interesses do grupo.

Mas mesmo que este seja o nosso padrão, esses legisladores existem mesmo?

Limitando nossa análise aos estados pequenos, podemos encontrar exemplos em algumas áreas pequenas e culturalmente homogêneas. Isso pode ser verdade no nível de uma comissão do condado ou na legislatura de um pequeno estado como Acre, onde os legisladores representam apenas alguns milhares de pessoas por distrito eleitoral.

No nível do Congresso, no entanto, onde um único distrito eleitoral inclui tipicamente centenas de milhares de pessoas, as alegações de homogeneidade são obviamente absurdas. E quanto maior o eleitorado, pior fica.

Grandes estados … abrangerão mais interesses políticos do que pequenos estados, todas as outras coisas sendo iguais. […] Embora a pequena população não garanta a homogeneidade, a grande população resulta em heterogeneidade.

Segue-se logicamente, portanto, que é improvável que uma população mais heterogênea tenha um representante político que compartilhe muitas de suas visões ideológicas.

O tamanho do eleitorado em expansão não é uma contribuição insubstancial para o nível de divergência ideológica dos membros da Câmara em relação aos seus constituintes. … Em distritos eleitorais menores, ideologicamente coesos, é mais fácil para os legisladores satisfazerem os desejos políticos dos cidadãos. O crescimento das populações dos distritos eleitorais parece ter aumentado a distância entre o representante e os constituintes da área de representações políticas.

Consequentemente, não é de surpreender que, quando chegamos ao nível do Senado, os representantes não mostrem virtualmente nenhuma congruência com as ideologias das pessoas que deveriam representar.

As preferências dos senadores divergem drasticamente da preferência do eleitor médio em seu estado. O grau de divergência é quase tão grande quanto se os eleitores fossem aleatoriamente designados para um senador.

Naturalmente, isso pode ser afetado por outros fatores, além da mera heterogeneidade da população – como a necessidade de cultivar relacionamento com aqueles que podem fornecer fundos de campanha. No entanto, a impossibilidade de representar os interesses de uma população tão grande leva um legislador a escolher quais interesses ele decide ouvir. No caso do Senado, Barber descobre que aqueles que são representados geralmente são os constituintes “que escrevem cheques e participam de captação de recursos”.

Mas não é necessário concluir que os legisladores ouvem os doadores ricos por razões cínicas. Mesmo que um senador nessas circunstâncias quisesse representar todos os cinco milhões de seus constituintes (como seria o caso em um estado de tamanho médio). É importante reiterar que essa é simplesmente uma tarefa impossível sob o modelo delegado de representação.